sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Aqui nasceu a idéia da Frase de Machado de  Assis que é meio autobiográfica:
“Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria.”
Já pelo meio do Livro, ele escreve este texto sobre Dona Plácida que cuida da casa onde ele se encontra com Virgília:
“Memórias póstumas de Brás Cubas 
Capítulo LXXV  - Comigo
Podendo acontecer que algum dos meus leitores tenha pulado o capítulo anterior, observo que é preciso lê-lo para entender o que eu disse comigo, logo depois que Dona Plácida saiu da sala. O que eu disse foi isto:
-- Assim, pois, o sacristão da Sé, um dia, ajudando à missa, viu entrar a dama, que devia ser sua colaboradora na vida de Dona Plácida. Viu-a outros dias, durante semanas inteiras, gostou, disse-lhe alguma graça, pisou-lhe o pé, ao acender os altares, nos dias de festa. Ela gostou dele, acercaram-se, amaram-se. Dessa conjuncção de luxúrias vadias brotou Dona Plácida. E de crer que Dona Plácida não falasse ainda quando nasceu, mas se falasse podia dizer aos autores de seus dias: -- Aqui estou. Para que me chamastes? E o sacristão e a sacristã naturalmente lhe responderiam: -- Chamamos-te para queimar os dedos nos tachos, os olhos na costura, comer mal, ou não comer, andar de um lado para outro, na faina, adoecendo e sarando, com o fim de tornar a adoecer e sarar outra vez, triste agora, logo desesperada, amanhã resignada, mas sempre com as mãos no tacho e os olhos na costura, até acabar um dia na lama ou no hospital; foi para isso que te chamamos, num momento de simpatia. “

Não deixa de ser bem humorada a ironia que ele demonstra ao escrever que os pais de Dona Plácida estariam lhe fazendo um convite para traze-la à vida.

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